segunda-feira, 31 de maio de 2010

MALdernidade

A modernidade é a causa da perda de identidade geral e constante,de "no passado" e "naquele tempo" agora significarem "a um mês atras" .
Hoje eu vi uma cena engraçada na rua:
O celular de um cara tocou,ele pegou o celular,olhou o visor e falou:
-"Número desconhecido,há!Como pode isso??Quem quer que atenda tem que se identificar!Onde já se viu atender ligação de número desconhecido!"
Oê.Peraiiii.Não era assim a pouquíssimo tempo atrás?Eu fiquei confusa com aquilo.O cara devia ter uns 40 anos e já se rendeu a modernidade assim?!
Eu sempre achei que a graça do telefone fosse a surpresa.Agora que não sei mais pra que que aquela merda serve mesmo...As pessoas perderam todo o romantismo ,incrível:
Carta só pra contas,antes do conteúdo do e-mail além dá identificação lemos também o assunto.Campainha com som engraçado?Já era.Identifique-se pelo interfone por favor,isso se eu não ver sua cara na câmera primeiro e te desprezar da mesma forma que faço com meu direito de escolha hoje em dia.Por que a gente tá assim?Nunca tivemos tantas escolhas e escolhemos tão pouco.Tudo acontece num piscar de olhos.Não há mais tempo para devaneios,para filosofar sobre as constelações.Há dias em que mal me dou conta de que o céu existe.Não viramos peças desse mundo superficial,nos tornamos tão descartáveis como todas as outras coisas.Se antes a máquina era inspirada no homem e veio para servi-lo,nos dias de hoje nós é que tentamos seguir seu exemplo:tentamos ter mil e uma funções,ser extremamente práticos,só sobrevive quem for blasé.E assim nos tornaremos genéricos.Espero que lá para frente não procurem pelas nossas tradições.A maior tradição de nosso tempo é o consumo,o desejo pelo prazer urgente.Vivemos no mundo da quantidade.A qualidade se perdeu junto a simplicidade,com a beleza das coisas singelas.
Ninguém mais vive sem demarcar o tempo,mas ao mesmo tempo todos renegam suas marcas...tive um sonho de um tempo em que ter rugas era como ter tatuagens:um protesto,uma símbolo de identidade,uma marca que falava sobre alguém e não contra.Nele,as pessoas velhas tinham um quê de vanguarda e inspiravam a juventude.Tinha um anúncio engraçado nas paredes e postes: "Quem disse que religião é coisa de gente atrasada?A nossa não:sexo antes do casamento pode!Venha você também fazer parte da nossa sala de bate papo de sexo virtual santo!"
A última cena do sonho era a do governo incentivando as pessoas a usarem drogras na esperança de causar-lhes alguma euforia,mas as pessoas só se interessavam pelas "viagens high tech".
Essa evolução não veio para trazer paz e sim indiferença.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Julie & Julia & eu

Acabei de ver o filme Julie & Julia.Não dava nada,pensei que era um daqueles filmes que ajudam a gente a dormir quando sente preguiça mas não está entediada o suficiente.Acabei perdendo o sono.Julie gostava de cozinhar por hobby,estava perto de fazer 30 anos,trabalhava,tinha um bom relacionamento mas faltava algo mais em sua vida.Ela decide então fazer em um ano mais de 300 receitas do livro da cozinheira Julia Child e postar num blog suas experiências.O filme tem um final bem inesperado afinal termina contando que a cozinheira não gostou do que Julie escreveu(que era quem ela mais queria que gostasse e desejava conhecer)e que ela continuou morando no Queens.Mas conseguiu coisas mais importantes e sólidas como bons amigos e fazer algo que lhe fazia sentir realizada.Ao contrário do que eu imaginava,o filme fala de mulheres na cozinha sem ter nada de clichê.
Eu gosto de cozinhar também,apesar de saber beeeeeem menos do que 300 receitas,mas entendo a sensação de que Julie fala no início do filme,de que em um dia em que tudo estava dando errado,quando ela cozinhava tudo parecia voltar a se harmonizar.Esse prazer está em muitas coisas além da culinária.E o filme faz pensar também em como deixamos de lado essas atividades lúdicas quando chegamos a vida adulta,seja pela correria do dia a dia,seja porque deixamos de acreditar na importância delas.
Ultimamente me sinto como a lebre da fábula que resolveu sentar um pouco para pensar em nada.Enquanto isso vejo algumas lebres começarem a se levantar,algumas com sucesso,outras não, em ultrapassar as tartarugas..Em que rodada eu parei mesmo?Será que eu sou uma lebre ou uma tartaruga?Talvez lebreruga. : )

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Uma amazona desceu do cavalo e disse:

-Daqui enxergo melhor.

Um gago ingênuo disse sorridente:

-Obrigado gagueira,por você falo menos besteira!

Um homem todo abotoado disse:

-Fechado estou bem guardado!

Um passarinho escarlate falou do alto da macieira

"O homem só pensa no antes e no durante do sexo,e a mulher só pensa no depois,o problema é esse."

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ah...escrever é tão bom!

Sempre que escrevo lembro de quando era criança e para brincar tinha que arrumar os brinquedos depois.Quantas vezes não deixei de brincar por preguiça de ter que arrumar tudo!Só quando me esquecia desse detalhe infeliz é que brincava e lembrava como era bom.No início a gente brinca e finge que esqueceu de guardar os brinquedos.Depois a gente aprende a importância de guardá-los,nota que eles passam a durar muito mais do que aqueles que a gente deixava jogado.
Sinto um prazer enorme em escrever,sem duvida foi a forma de sublimação que eu escolhi,mas quando lembro que tenho que reler e corrigir o que escrevi me dá uma preguiça danada.Perfeccionista que sou pensei que nunca ia voltar a escrever por conta disso,mas daqui a pouco me relembro da importância desse exercício,por enquanto estou satisfeita em só descarregar minhas idéias aqui,mesmo que com isso me perca de alguma delas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mozart-Sociologia de um gênio

Esse livro de Norbert Elias é um daqueles livros que mexem com a gente.Eu li para apresentar um seminário na faculdade mas não consigo parar de pensar em algumas idéias desse autor brilhante.Ainda por cima,ao contrário da maioria dos sociólogos,ele apresenta essas idéias de forma muito clara e atual,eu quase cai da cadeira quando li que o autor era nascido em 1897!
O livro aborda as dificuldades da produção artística(principalmente para os músicos) na sociedade da corte no século XVIII a partir da vida de Mozart.
Mozart foi criado dentro dos padrões da corte,pois seu pai que foi também seu educador,era músico da corte.
Era portanto um burguês que sabia perfeitamente compor músicas no gosto da corte,mas tinha um desejo enorme de romper com esse padrão por querer mostrar sua criatividade como músico e não ser apenas mais um "macaquinho de auditório" dos aristocratas.Por ser o gênio prodígio que era não se conformava que com tanto talento pudesse ser menosprezado e não conseguir chegar onde queria por não pertencer a uma classe social.
Talvez se tivesse resistido por um pouco mais,teria o reconhecimento que tanto desejava ainda em vida,assim como teve Beethoven,mas sem dúvida sua tentativa influenciou positivamente muitos artistas posteriores(como o próprio Beethoven) e também a sua música.
A forma tão humanizada como Elias apresenta Mozart,com angustias e inseguranças,nos aproxima de sua estória e nos gera admiração pela sua superação daquelas pela arte durante tanto tempo.Consagra Elias por suas interpretações brilhantes,que não nos permitem admirar a trajetória de Mozart sem sentir gratidão a Elias por uma apresentação tão diferenciada.Ao contrário de muitos autores que deixam seu ego falar mais alto do que a estória que se propõem a contar e escolhem escrever de forma tão rebuscada( como que para dizer a todo tempo "estou aqui,essa é minha marca,olha quantos termos eu conheço,vê como sou inteligente?" )e se prendem tanto a isso que acabam nos oferecendo um trabalho incompleto e extremamente exaustivo.
Pois bem,para mim, a máxima do livro de Norbert é uma equação que ele apresenta de forma indireta no capítulo "O artista no ser humano" e que confesso só ter notado ao reler o capítulo lá pela terceira vez,fico feliz dela enfim ter acenado para mim.
Nesse capítulo ele fala como avançar em termos de civilização está sempre relacionado a desenvolver novas formas de controlar a animalidade que faz parte de nossos dotes naturais,a fim de melhorar nossa relação com nós mesmos e com os outros.Afinal como seriam nossas relações se sempre atendêssemos aos impulsos de nossa animalidade?Provavelmente caóticas.
Para explicar o caso de Mozart,Elias fala da sublimação.
A sublimação,que descobri depois ser um conceito criado por Freud,consiste justamente em transformar essas energias que até então seriam ruins para nossas relações(raiva,angustia,carência...até as mais esquisitas...) em algo socialmente aceitável.
Mozart tinha um pai extremamente controlador,um amor não correspondido,uma enorme necessidade de ser amado,diversas frustrações como artista(e por ai vai...),ou seja,tinha essas energias de sobra.Mas quem dera fosse apenas isso necessário para que nos julgassem talentos magníficos como Mozart ?
É preciso juntar essas energias com o universo de fantasias que habita a mente do artista,este por sua vez precisa de um profundo conhecimento do "material" que usará para "desprivatizar" esses sentimentos.Sem ele,seriam apenas fantasias e sentimentos reprimidos de um indivíduo.É a desprivatização proporcionada pelo material( e reforçando:um bom conhecimento dele) que torna tantos sentimentos e fantasias universais.O material no caso,seria sons,cores,formas...
De acordo com os relatos do livro,Mozart além de começar a tocar piano desde a infância,o fez pelo desejo de conseguir mais atenção do pai,que ensinava música para sua irmã mais velha.Portanto foi cedo que Mozart começou a ganhar intimidade com os sons e sublimar suas fantasias através dele.
É justamente nessa questão que surge o maior conflito/desafio do artista:relacionar de forma harmônica suas fantasias com o material.Saber até que ponto pode ir com um sem deformá-lo e sem desrespeitar o que é intrínseco ao outro.
Por último,mas não o menos importante item dessa equação,considera-se a consciência artística.É a partir dela que o artista confere se está "tudo na medida certa" para enfim nascer a obra de arte.
Fluxofantasia +material + consciência artística = obra de arte

*A sublimação não tem por objetivo reprimir os instintos animais e sim buscar a melhor forma de comunicá-los.Se fossem anulados,provavelmente também seriam os artistas.

*E desde então não consigo parar de pensar que outras formas de sublimação são estas que estão espalhadas por aí(esportes?a luta por exemplo,quantas vidas já deve ter salvado por sublimação...política?jogos?a escrita sem dúvida deve ser a mais explícita),virou meu novo jogo imaginário,junto com o de somar os números de casas e prédios para ver se dá sete...