quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Conto de verão

Lá estava ela no lugar mais óbvio para ser estar num dia de sol como aquele,numa cena que era toda deja vu:a mãe que passa o protetor solar no filho e as crianças que correm pela areia;o casal que joga frescobol na beira da praia,o homem que faz seu cooper solitário,a senhorinha que toma água de coco relembrando a juventude,as jovens sorrindo graciosamente para os rapazes dando início aos fugazes romances de verão...
Deitada em sua canga de bruços e olhos fechados sentia as gotas de suor escorrendo,umas tão suaves que dava para sentir o caminho que percorriam em seu corpo.Olhou ao redor afim de distrair a mente do corpo que ardia com o sol quando viu sua luz reluzir num grão de areia,era como se os enxergasse pela primeira vez:nunca tinha reparado que a areia tinha tantas cores.Pensou se aqueles grãos que antes faziam parte de uma rocha sentiam falta dela ou se sentiam aliviados por não estarem mais ali,se se sentiam largados e sem importância pela rocha permitir que a onda os levasse e nunca mais terem notícia dela.Será que a rocha sequer deu falta dos pedacinhos que perdeu?
Achou graça dos próprios pensamentos e como eles transformavam todos os sentimentos que queria esquecer em metáforas.
Por fim pensou que talvez fosse bom não saber mais da rocha e guardar a imagem onipotente que tinha dela,talvez não valorizasse a liberdade de ser grão se antes não fosse rocha.